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Como a escolha de uma música pode mudar o seu dia


 “Chuvinha” de neurotransmissores

A atriz coadjuvante de nossas vidas é sempre ela: a música. Estou certa? Ou poderíamos fazer a tentativa de imaginar o mundo sem ela?

Imagine-se em atividades em que precise colocar motivação e empenho: faxina da casa, limpeza do carro ou exercícios na academia. Certamente tudo fica mais prazeroso ao som da música de que você tanto gosta. Mas, por outro lado, imagine-se acordando desanimado. Saiu de casa e encontrou alguém que lhe conta algo triste, e, para completar, liga o rádio e está tocando justamente aquela música melancólica que o faz lembrar de brigas com pessoas que tanto ama, do trabalho cansativo? Sem perceber, você acaba transformando algo que já não estava bom em pior ainda! E tem gente que ainda diz: era a música perfeita para o meu dia… Nada disso, nada de aumentar o sofrimento. Vamos refletir sobre o assunto: por que a música exerce tamanha influência sobre nossos sentimentos? Caso nunca tenha se perguntado sobre isso, saiba que pesquisadores descobriram que a música tem a capacidade de aumentar ou diminuir a produção de neurotrofinas (proteínas responsáveis pela sobrevivência, desenvolvimento e funcionalidade dos neurônios) afetando, assim, o funcionamento do sistema nervoso. O sistema das neurotrofinas é capaz de regular processos celulares vitais como a liberação de neurotransmissores, tais como a dopamina e a noradrenalina. A dopamina é um neurotransmissor relacionado ao prazer, bem estar e recompensas, enquanto que a noradrenalina nos proporciona excitação física, mental, e bom humor.

Assim como palavras são gatilhos que fazem pensar em determinadas situações, sons ou imagens, a música faz isso com maior abrangência, visto que ela ativa diversas regiões cerebrais ao mesmo tempo, envolvendo áreas responsáveis por interpretar as diferentes alturas, timbres, ritmos e modulação do sistema de prazer e recompensa envolvidos na experiência musical.

De acordo com Tolstói (1889 apud Miranda, 2013): A música obriga a esquecermo-nos da nossa verdadeira personalidade, transporta-nos a um estado que não é o nosso. Sob a influência da música temos a impressão de que sentimos o que não sentimos; que compreendemos o que na realidade não compreendemos; que podemos o que não podemos[…] A música transporta-nos, de surpresa e imediatamente, ao estado de alma em que se encontrava o artista no momento da criação, confundimos a nossa alma com a dele e passamos de um estado a outro sem saber por que o fazemos.

Quanto maior a sensação de prazer relacionada a uma música, maior é a liberação de dopamina ou noradrenalina e, dessa forma, maior será a quantidade de associações que o nosso cérebro realiza com a mesma. A música pode alterar o nosso estado fisiológico através dos sistemas nervoso e neuroendócrino.

Portanto, se você almeja um dia agradável, ouça músicas que lhe despertem sensações que promovam o seu bem estar. Do mesmo modo, quando pensamos em questões de aprendizagem, a música pode ser um aliado altamente eficaz. Por exemplo: que tal começar a aula com uma boa música? Automaticamente, os alunos estão sendo preparados para a recepção do conteúdo, pois relaxam, ficam mais descontraídos (o que promove a interação professor e aluno). Ouvir música exige o desenvolvimento da capacidade de concentração, além de promover a criatividade, pois sensibiliza o aluno. Outra alternativa é solicitar que eles componham músicas relacionadas ao conteúdo da disciplina. Com isso, há muito maior aprendizagem, pois eles terão que utilizar os conhecimentos prévios e evidenciá-los através das habilidades de leitura, escrita, interpretação, ritmo, entonação de voz, e por aí adiante. Portanto, dentro do contexto educacional, determinados tipos musicais trazem o benefício de ampliar e facilitar a aprendizagem.

Seja por motivos pessoais, na execução de uma atividade ou situação de aprendizagem, o importante mesmo é seguir a ordem do poeta, mas com o entendimento de que ao “cantar, alto e forte, a vida vai melhorar”, pois “chuvinhas” de substâncias prazerosas estarão modulando o cérebro e, consequentemente, todo o seu organismo.



Por Ana Lúcia Hennemann



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