Por Larissa Saram
O Mombojó acaba de entrar na adolescência. A banda pernambucana formada por Felipe S. (vocal e guitarra), Chiquinho (teclado e sampler), Marcelo Machado (guitarra) e Vicente Machado (bateria) completa 13 anos em 2014, mas o som é de gente grande desde quando lançaram “Nadadenovo”, em 2004. O primeiro disco surpreendeu a crítica ao transformar uma misturada desconexa de estéticas já existentes em algo novo. Não precisou de muito tempo para a então criança prodígio crescer e chegar ao começo da juventude com a maturidade necessária para bancar um trabalho que foge completamente do linear.
O grupo acaba de lançar seu quinto álbum, “Alexandre”, talvez o mais experimental da carreira: das 11 faixas, apenas quatro ou cinco têm refrões e batidas sincronizadas até o fim. Quase todas contam com participações especiais de cantores e produtores, como China, Céu, Pupillo e Laetitia Sadier, vocalista da banda franco-britânica Stereolab, principal referência internacional do grupo. Em entrevista ao Colherada por telefone, Marcelo falou sobre como a passagem do tempo afetou a banda: “Hoje nós sabemos o que queremos, do que estamos falando. Neste disco, a gente se permitiu”. Ele também avisou para deixar a agenda reservada para o segundo semestre, vem turnê do Mombojó por aí.
Colherada Cultural: Você formou o Mombojó há 13 anos, junto com o seu irmão, Vicente. O que aprenderam nesse tempo que só foi aplicado agora, neste novo álbum?
Marcelo Machado: Uma grande coisa que aprendemos foi dominar as nossas ferramentas, principalmente dentro do estúdio. Acho que com o passar dos discos a gente conseguiu fazer coisas diferentes, mas com o “Alexandre” rolou uma maturidade sonora para chegar mais ao som que queríamos. O que poucos sabem é que quase nenhum som de “Nadadenovo” é real. Não dominávamos nada sobre captação, então a gente tocava e dentro do computador é que arrumava como queria. Isso incomodou um pouco e nos levou a estudar mais, não a ponto de ser técnico, mas agora dá pra dizer “é isso que a gente quer”.
C.C.: Na página do Facebook do grupo vocês definem o disco como “um álbum menos canção e mais música”. O que isso significa exatamente?
M.M.: “Alexandre” soa mais como uma experiência sonora, tem músicas lá que não fazem o menor sentido. Para usar as palavras exatas, fizemos um disco doidão! Você ouve muitas vezes, mas sempre descobre uma coisa diferente. É instigante. Até eu que participei de todo o processo de produção e gravação, ainda encontro sons que não tinha prestado atenção antes. Queremos que as pessoas ouçam e não entendam muito um timbre, que digam “esses caras viajaram ao colocar o som de uma bolinha de ping pong”. A gente se permitiu e toda a banda estava no mesmo clima.
C.C. A lista de referências que influenciaram “Alexandre” tem desde Radiohead até Cidadão Instigado, mas fiquei surpresa ao encontrar nessa lista o nome de Justin Timberlake. Tem muita gente que não o considera um artista talentoso. Queria que você elaborasse uma tese de defesa para o cara.
M.M.: Justin não é um artista pra gente como é o Stereolab, por exemplo, que idolatramos até os álbuns ruins. Gostamos do tipo de produção que ele faz, de como insere alguns elementos simples na música, principalmente os mais dançantes. Ele chega como referência por isso. Na faixa “Diz o Leão” tem um estalo de dedos ao longo da música inteira, as vozes são muito na cara… Isso é o tipo de coisa que o Justin Timberlake faz. Talvez se a gente entendesse o que ele fala nas canções, gostássemos ainda mais dele (risos).
C.C.: Laetitia Sadier, do Stereolab, faz uma participação surpreendente no disco. Como chegaram até ela?
M.M.: Imagina como é para um fã dos Rolling Stones gravar com o Mick Jagger. Foi mais ou menos assim pra gente, uma coisa fora do normal, um presente. Morávamos todos em São Paulo ainda [hoje Marcelo e Vicente moram em Recife] quando fomos assisti-la ao vivo pela primeira vez. Como conhecíamos o pessoal da produção, tivemos a oportunidade de sair com a Laetitia depois do show, para tomar um vinho. Naquele dia, o único disco que tínhamos na mão era “Homem-Espuma” e o entregamos para ela ouvir. Achamos que o CD iria parar no cofre da van, mas um ano e meio depois a Laetitia ouviu e mandou uma mensagem via Facebook para o Felipe, vocalista da banda. Disse que tinha amado e que o microfone dela estava aberto, caso a gente quisesse fazer alguma coisa juntos. Tínhamos certeza que era alguém trollando a gente (risos). Não dava para acreditar! Ficamos malucos! Já estávamos no processo de gravação do “Alexandre” e enviamos então “Summer Long”, que estava mais ou menos pronta. Ela mexeu e mondou de volta. Fizemos a primeira audição juntos e todo mundo chorou, foi a maior emoção do mundo. Não fazemos muito dinheiro, mas somos uma banda realizada.
C.C.: Vocês são de uma geração que acompanhou a chegada e a influência direta da internet na maneira de fazer e vender música. Como encararam isso hoje?
M.M.: A gente tenta acompanhar. Disponibilizamos o disco todo no Youtube, no Deezer, as faixas estão a venda no iTunes e estamos na luta para fazer o vinil. Todo o processo de construir a música com a Laetitia, por exemplo, foi via Facebook. Talvez não tivesse sido possível se fosse de outra forma. Acho que a internet veio para o bem e para o mal. A oferta é tão grande que sinto que deixo de evoluir em conhecer bandas novas. O MP3 já está sendo substituído por esses aplicativos com assinatura, que fazem mais sentido porque não lotam o HD do computador e ainda ajudam na indicação artistas novos.
C.C.: Vocês têm um público grande e fiel e para essas pessoas a gente nem precisa falar o quanto vocês sãos bons. Queria que você fizesse um convite para o pessoal que nunca ouviu Mombojó e indicasse três músicas indispensáveis para conhecer o trabalho da banda.
M.M.: Vou ter que fazer uma peneira! Vamos lá: “Deixa-se acreditar”, do nosso primeiro disco “Nadadenovo”, que tem um apelo pop e é uma das mais pedidas nos nossos shows; “Papapa”, do terceiro CD, “Amigo do Tempo”, que ficou bastante conhecida por causa do clipe, e para quebrar a sequência pop, “Summer Long”, do “Alexandre”.
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