Bia Lessa, diretora de teatro e artista multimídia, emprega diversos tipos de arte e provocações sensoriais para propor uma reflexão sobre o futuro da humanidade em “Cartas ao Mundo”.
Baseada em uma ocupação virtual do Largo do Paissandu, em São Paulo — denominada “Exercício de futuros a partir de fragmentos da obra de Glauber Rocha” —, a produção faz um recorte dinâmico entre filmes do cineasta baiano, fotografias, sons ambientes, músicas, citações, poemas e instalações artísticas que encenam possibilidades para a vida na Terra, entre a distopia e a utopia. A obra e a personalidade de Glauber Rocha são elementos condutores da narrativa.
O filósofo italiano Franco Berardi, autor de obras como “Depois do Futuro”, traz sua análise no primeiro episódio, intitulado “Asfixia”: “O século passado foi marcado pela euforia futurista. O futuro é expansão, aceleração e aprimoramento do nosso conhecimento e da nossa potência. (...) Agora, no novo século, o futuro se tornou uma espécie de ameaça”.
Em seguida, uma linha do tempo da cidade de São Paulo mostra construções erguidas e derrubadas através dos anos. A cidade é usada como metáfora para uma espécie de selva de pedra onde a fome, a poluição e a violência se ampliam em um futuro distópico. Nele, mesclam-se, por exemplo, uma entrevista do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, um poema de Marília Garcia, uma instalação do Cine Art Palácio e quadros de Anna Bella Geiger e Miguel Rio Branco. Todos em uma combinação para compor uma estética do horror, da distopia.
O segundo capítulo, batizado de “Mercadoria”, reflete sobre temas como o consumo desenfreado, a abundância material, o acúmulo de bens e as mercadorias, também utilizando-se de recursos multimídia fragmentados: entre eles, um discurso do geógrafo Milton Santos e cenas de um espetáculo do Teatro Oficina, com José Celso Martinez Corrêa.
Já no último episódio, de nome “O Comum”, as imagens são de beleza, prazer, amor, paz e esperança. Nele, o futuro é mais verde — mas é conquistado através da conscientização e da luta dos humanos. A mensagem pode ser sintetizada pela frase de Hélio Oiticica: “Devolver a terra à Terra”.
“Cartas ao Mundo” é uma produção do Curta!, do SESC, da Pinacoteca de São Paulo, do Instituto Inhotim, do Instituto Goethe e da Unloop Filmes. A estreia é no sábado, 2 de abril, com episódios às 15h, às 16h e às 17h.
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Crédito de Conteúdo e Imagem: Canal Curta
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