A instalação “Celacanto provoca maremoto” de Adriana Varejão, é uma obra tão barroca em seu fundamento e tão antropofágica em sua interpretação. Uma reinterpretação do chiaroscuro - técnica de pintura instituída no período renascentista do século XV - misturado ao mundo português.
A obra é uma conversa sensorial, blocos de azulejos brancos craquelados, pincelados por vários tons de azul em imagens que dão a sensação de ora mar calmo, ora revoltoso, rostos que se assemelham a querubins descrevem o mundo mítico, que se estende além do humano.
O título da obra não a descreve, mas faz parte da obra em si – geralmente, espera-se que o título dê luz à discussão da arte exposta – o título foi uma frase muito marcante do final da década de 70, em pichações Brasil afora, Nova Iorque e Paris, além disso o Celacanto é um peixe primitivo - identificado pela naturalista Marjorie Courtenay-Latimer - que na ocorrência de um abalo sísmico sobe a superfície.
Até aqui, uma breve análise da obra, mas que não se faz necessária para o entendimento da mesma.
A obra praticamente “fecha” o andar em que ela se insere e nos coloca em um momento de imersão e encanto, dando espaço à contemplação e reflexão. Uma artista fantástica nos ensinando que a Sabedoria antes de mais nada é a graça da escolha!
Escolher educar nosso olhar, buscar uma solitude que nos permita sem pressa, ver e fazer uma longa descrição do que está sendo visto, são movimentos que nos levam a intuir significados. Estarmos sozinhos, debaixo dos céus, com aquilo que amamos, é também um grande e valioso exercício de Paciência da Observação.
A obra vai muito além de ser o diálogo transversal com o legado barroco, as cicatrizes e singularidades do passado colonial, mais que tudo, é toda uma beleza que, ao passo que converge à desordem, tem a função de ordenar a alma e elevá-la.
Por: Dailane Paula / Florescence Pão e Poesia
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